Descoberta foi feita na Bacia do Araripe, no sul do Ceará, maior sítio paleontológico do País; local voltou a ganhar destaque após operação da Polícia Federal que desbaratou esquema de contrabando
Inseto encontrado é um adulto da
família Oligoneuriidae
Foto: Divulgação/ UFES, URCA e UFV /
Estadão
A descoberta de um
raríssimo fóssil de um pequeno inseto será crucial para a ampliação do
conhecimento sobre a Formação do Crato, na Bacia do Araripe, sul do estado
do Ceará. A região geológica se formou durante a separação dos continentes
americano e africano e é conhecida por ser o maior depósito de fósseis do País.
Na semana passada,
o Araripe ganhou destaque no noticiário depois que uma operação da Polícia
Federal para desbaratar um esquema de contrabando de fósseis acabou por levar à
prisão três pessoas, que seriam atravessadoras de material paleontológico da
região.
O inseto encontrado
é um adulto da família
Oligoneuriidae, o segundo a ser catalogado em todo o mundo. A descoberta, feita por
pesquisadores da Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES), da Universidade Regional
do Cariri (Urca) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), está publicada na
edição desta quarta-feira da revista PLOS One.
O fóssil é um
representante da ordem Epheneroptera, de insetos voadores que em sua vida
adulta vivem apenas durante algumas horas e, por isso, são conhecidos como
efêmeras. Durante a fase de larva, as efêmeras são aquáticas. As efêmeras são
consideradas importantes biomarcadores da qualidade da água, já que são muito
sensíveis às variações do meio em que vivem.
"Durante a
separação dos continentes, nessa região se formou um ambiente de água doce, com
várias lagoas, onde provavelmente esses insetos aquáticos eram comuns",
explicou a paleontóloga Taissa Rodrigues, uma das autoras do trabalho.
"Estudar o Araripe é muito interessante porque a região conta uma história
muito específica da pré-história do Brasil. A descoberta vai nos ajudar a
entender melhor essa história."
Além disso,
explicou, a preservação de fósseis na natureza é um evento raro. São
necessárias muitas condições ambientais muito específicas para que os animais
não sejam degradados. Por isso, a região do Araripe é considerada tão
importante para a paleontologia brasileira.
A rocha onde o
fóssil foi encontrado é datada do cretáceo inferior, entre 113 e 125 milhões de
anos atrás, quando a África e a América do Sul ainda estavam se separando. Os
fósseis dessa ordem de insetos aquáticos são abundantes na Formação Crato,
porém aqueles da família Oligoneuriidae são muito raros.
"Uma das
explicações para a escassez de fósseis desse grupo pode se dar pelo seu hábito
de vida. Durante a fase jovem, a maioria das larvas vive em ambiente com fluxo
de água corrente. Esse tipo de ambiente não é propício para a preservação de um
inseto tão delicado, dado que a correnteza destruiria suas partes mais
sensíveis, dificultando a fossilização", explicou a pesquisadora Arianny Storari, do Programa de
Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UFES, principal autora do estudo.
A
paleontóloga Taissa
Rodrigues destaca que o fóssil é um dos poucos achados na Bacia do Araripe
do qual se conhece a procedência.
"Apesar de
outras espécies de efêmeras serem conhecidas, elas foram coletadas de forma
ocasional e não há informações sobre o local exato da descoberta. Dessa vez,
como sabemos o local, é possível planejar novas coletas."
Os pesquisadores
acreditam que as informações podem ajudá-los a conhecer o ambiente em que essa
espécie viveu e até os estresses climáticos enfrentados por elas. Segundo os
cientistas, muitas efêmeras são consideradas importantes biomarcadores da
qualidade da água, já que são sensíveis às variações do meio em que vivem.
Fonte: Terra
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